Veterinários chineses viajarão a Kobe para investigar circunstâncias da morte do macho Long Long
A morte de um urso panda gigante em qualquer lugar do mundo não é assunto sem importância para Pequim. Trata-se de um dos principais símbolos de sua política de relações exteriores
As autoridades chinesas decidiram investigar a morte de um panda gigante no Japão. Long Long morreu de parada cardíaca na quinta-feira da semana passada no zoológico Oji, na cidade de Kobe. Três especialistas do ministério da Silvicultura do gigante asiático viajarão esta semana ao Japão para averiguar as causas da morte.
Long Long, ou Xing Xing em seu nome japonês, morreu ao não se recuperar de uma anestesia aplicada por veterinários do zoológico para extrair seu sêmen. Os técnicos japoneses pretendiam inseminar artificialmente sua companheira Tan Tan. É uma técnica usual, dada a dificuldade dessa espécie de se reproduzir em cativeiro.
Os responsáveis pelo zoológico pediram perdão em público, através das câmeras de televisão, e organizaram um espaço para realizar oferendas florais e deixar mensagens de condolências. Mas tais gestos não satisfizeram os chineses, sempre receosos a respeito da atitude que os japoneses adotam com qualquer assunto que afete a China.
Os especialistas chineses consideram que existem muitos fios soltos na morte de Long Long. Os responsáveis em Pequim pediram aos japoneses que mantenham o cadáver do panda em bom estado porque querem que seus legistas o estudem. Suspeitam que os veterinários japoneses perderam a mão com a anestesia e que o animal, de 14 anos de idade, morreu de uma overdose de sedativos. Além disso, se perguntam o quê levou os veterinários a extrair o sêmen do animal fora de seu período de reprodução, segundo publicou ontem o jornal Oriental Morning Post, de Xangai.
A atitude das autoridades chinesas tem sua lógica. A morte de um urso panda gigante em qualquer lugar do mundo não é assunto sem importância para Pequim. Trata-se de um dos principais símbolos de sua política de relações exteriores.
Mao Tse-Tung implantou a diplomacia do panda como símbolo da paz e amizade entre os povos. O envio de um casal desses animais significava a vontade de Pequim de querer estabelecer ou fortalecer as relações diplomáticas.
Mas no final dos anos 1980, a China decidiu acabar com esse gesto. O urso panda de Sichuan é uma das espécies em maior perigo de extinção no mundo. Restam apenas 1 600 exemplares em liberdade e outros 300 em cativeiro, espalhados por todo o planeta. Agora eles saem do país apenas em ocasiões muito especiais, como foram os casos da Espanha e de Taiwan.
Pequim não os presenteia mais. Faz contratos de aluguel, da ordem de 1 milhão de dólares anuais, usados para financiar a preservação da espécie. O zoológico de Kobe renovou no mês de junho o contrato de Long Long por cinco anos. Agora deverá pagar 500 mil dólares como indenização por sua morte. É a mercantilização do panda.
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