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quinta-feira, 14 de abril de 2011

GDF é alvo de denúncias

Programa que prevê a possibilidade de concessão de terrenos, incentivando a criação de empregos, é alvo de numerosas irregularidades

Por Márcia Casali

O decreto que suspende por 90 dias benefícios econômicos do Programa de Desenvolvimento Econômico Integrado e Sustentável (Prodeis), antigo Pró-DF, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, informa que o governo vai moralizar a concessão de terrenos. A suspensão pode ser prorrogada por mais 90 dias. Por meio da assessoria o governador informou que o patrimônio público não pode ser "dilapidado para interesses particulares".

O Prodeis, um programa que beneficia micro e pequenas empresas com terrenos, que não podem ser vendidos a terceiros, despertou a atenção após um dado divulgado pelo próprio governo. Até o ano de 2003 das 4.412 empresas beneficiadas pelo programa, apenas 800 funcionavam. Em 2010, o número de concessão de áreas foi maior que os três anos anteriores, além de sessões extraordinárias realizadas nos últimos dias do governo para entrega de áreas para determinadas empresas.

A venda irregular era feita por diretores de entidades que representam os microempresários. Eles negociavam formas de furar fila para acelerar o recebimento do terreno, uma maneira de passar na frente de pessoas que esperavam há anos pelo benefício. Os suspeitos de fazer parte do esquema são: o ex-diretor da Federação das Micro e Pequenas Empresas do DF (Fempe), Wilton Nunes de Lima, conhecido como Capitão, o ex-vice-presidente da Federação das Associações das Micro e Pequenas Empresas do DF (Famicro), Aécio Granjeiro Torres e o ex-subsecretário da recém criada Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Eudaldo de Alencar.

A equipe do Na Prática entrou em contato com os suspeitos por telefone. Como o processo corre em segredo de justiça, eles não quiseram dar entrevistas.

O Secretário de Desenvolvimento Econômico do DF, José Moacir de Souza Vieira, assim que assumiu a pasta anunciou a suspensão do programa. Segundo o secretário a situação não era novidade para os empresários. "Eu tinha conhecimento da situação justamente por ser empresário e me relacionar com outros comerciantes", explica. Para ele o programa suspenso não trará prejuízos para a economia do DF nos próximos meses. Os processos para quem recebeu o lote, incentivos econômicos e a escritura da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) não param. O decreto não impede que a Secretaria receba novas cartas-consultas. Mas quem ainda não havia assinado o contrato com a Terracap teve o processo suspenso.

O deputado distrital Chico Leite (PT) lidera a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquéritos (CPI) para apurar irregularidades no Prodeis. Todo o período de funcionamento do programa vai ser investigado - de julho de 1999 a dezembro de 2010. Para Chico Leite o problema não é mais do governo e sim de moralidade. "O Pró-DF é a maior vergonha que existe. Em todo lugar eu ouço as pessoas falarem que tiveram que pagar propinas", diz o deputado que aguarda a definição de membros para a comissão.

Lixo não, sustentabilidade

Com o aumento da produção de lixo, as cooperativas oferecem oportunidades de emprego

Por Márcia Casali

O Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU) realiza operações para retirar das ruas carroceiros e catadores. O objetivo é a regulamentação da atividade e a transferência desses profissionais para centros de triagem de matéria-prima recolhida. Segundo o presidente da Central das Cooperativas de Materiais Recicláveis do DF (Centcoop), Ronei Alves de Lima, Brasília tem hoje mais de dez mil pessoas que vivem da reciclagem.

Com o intuito de realizar uma ação conjunta entre a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Trabalho (Sedest) e a Centcoop, o SLU elaborou um cadastramento sócio-econômico dos carroceiros e catadores. A autarquia estimula a parceria entre catadores e centros de triagem de materiais recicláveis, como a Associação Pré-Cooperativista de Catadores de Resíduos Sólidos de Brasília (Apcorb) que funciona na L4 Sul. A usina da Apcorb é uma das ações do governo Distrital para a retirada dos catadores do Lixão da Estrutural.

Para a presidente da usina, Alessandra Alves, a cooperativa é a oportunidade da inclusão social dos trabalhadores da coleta de materiais. "Na usina há 11 anos busco melhores condições de trabalho para o grupo e observo que a mídia ajudou a categoria ao falar em meio ambiente e material reciclável", comenta. Segundo Alessandra a rentabilidade depende da produção. Atualmente a equipe recolhe cerca de 70 toneladas de material, com rendimento de R$ 80 mil reais ao mês. Todo valor é dividido pelo número de catadores, rendendo a cada um R$ 400 reais. "A profissão não é fácil e ainda existe muito preconceito. Somos catadores, mas com orgulho", finaliza.

Associada - Irismar Nascimento Vieira, associada da Apcorb há seis anos, a usina é uma fonte de renda para sua família. Casada e mãe de três filhos, todos desempregados, Iris, como é conhecida pelos amigos, percebeu muito desperdício de material e encontrou no reciclado uma forma de aumentar a renda da família. "Faço artesanato utilizando peças como: latinha, garrafa pet, lacre e papelão para produzir flores, bolsas, roupas, além de luminárias", comenta. De acordo com Iris, criar peças artesanais utilizando material retirado do lixo, é a certeza de estar colaborando com o meio ambiente . "As pessoas não imaginam como é importante adotar em casa ou nas empresas a coleta seletiva. É uma oportunidade de ganho para quem não tem emprego", afirma.

Todo ano Iris é convidada a participar de exposições voltadas à sustentabilidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte) e no estacionamento do Museu da República. "Tenho amigos na usina que fazem artesanato, mas não participam das exposições, por falta de dinheiro para comprar o material utilizado na confecção das obras. Meu desejo é que eles tenham a mesma oportunidade que estou tendo hoje", afirma Iris.

Usina- O chefe da usina L4 Sul, Cícero Carlos Gomes de Lacerda, informa que a Delta Engenharia, prestadora de serviços, em breve dará início as obras no local. "É uma maneira do catador se sentir valorizado, em um ambiente que ofereça mais conforto e dignidade", afirma Cícero. As obras serão realizadas na adequação da usina para a coleta seletiva. Um benefício para os catadores, que receberão o material pré-selecionado, melhorando o valor. "Investindo na reciclagem, melhoramos a limpeza da cidade e geramos empregos", afirma. Para Cícero a implantação da coleta seletiva, além de contribuir com a preservação do meio ambiente, diminui a quantidade de lixo nos aterros e oferece oportunidade para milhares de cidadãos que vivem da reciclagem. "Reciclar é conscientizar a população quanto ao destino do lixo", diz.

Resultados - Enquanto as cooperativas buscam fortalecimento, o Lixão da Estrutural está com data marcada para acabar. Delival Lemos de Souza, diretor de operações do SLU, juntamente com as Comissões de Direitos Humanos e Meio Ambiente da Câmara Legislativa do DF, estiveram no Lixão, no dia 23 de fevereiro, onde ouviram reclamações, discutiram propostas, além de constatar que o trabalho irregular de crianças e adolescentes continuam. Após o acidente que tirou a vida da catadora Maria Amélia Ramos da Cruz, 59 anos, os catadores pediram melhores condições de trabalho. Segundo Delival, o Lixão será extinto dentro de dois anos e Samambaia está recebendo um novo aterro. A extinção fortalece as cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis, aptas a participar da coleta seletiva solidária do Distrito Federal, além da geração de emprego e renda.

Serviços: Central das Cooperativas de Materiais Recicláveis do DF (Centcoop) Telefone/fax: (61) 3321-0320 e-mail: centcoop@gmail.com

Sem tratamento o glaucoma pode causar cegueira

O glaucoma é uma doença ocular causada principalmente pela elevação da pressão intraocular, que provoca lesões no nervo ótico

A doença ocorre quando há um aumento da pressão intraocular e danos que atinge o nervo óptico, decorrente do aumento dessa pressão. O glaucoma, se não tratado, pode causar a cegueira. Segundo a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG), a doença atinge aproximadamente 5% da população. Especialistas alertam sobre a importância das consultas periódicas com o oftalmologista. É importante a pessoa seguir corretamente as orientações médica e usar regularmente a medicação, uma forma de retardar ou impedir a perda da visão.,

"O glaucoma é a terceira maior causa de cegueira no Brasil, atingindo cerca de 1 a 2% da população geral e sua incidência chega a 6% na população com mais de 70 anos de idade", afirma a professora de Oftalmologia da Universidade de Brasília (UNB), Maria Regina Chalita.

Na maioria das vezes o glaucoma é assintomático. Apenas após anos de doença há perda do campo visual, que se inicia na periferia até atingir a área central. Deste modo, a única maneira de se detectar a doença é realizando um exame oftalmológico completo, onde se mede a pressão intra-ocular e exames complementares para avaliar o nervo óptico. Exames complementares também auxiliam no diagnóstico precoce, como por exemplo, o campo visual.

Ela explica que o glaucoma pode ser primário ou secundário. O primário, pode ser dividido em glaucoma de ângulo aberto, de ângulo fechado, congênito ou de pressão normal. O glaucoma secundário ocorre como uma complicação de várias condições médicas como cirurgia ocular, catarata avançada, uveíte ? inflamação da úvea, que é formada pela íris, corpo ciliar e coróide - diabetes ou uso de corticóides.

"O glaucoma congênito é uma doença genética rara que atinge bebês. É bilateral em 80% dos casos. Há um aumento da pressão intra-ocular causando um aumento no tamanho do globo ocular e embaçamento causado por edema de córnea" afirma a médica. O tratamento do glaucoma congênito, diz ela, é essencialmente cirúrgico.

Maria Chalita explica que o objetivo do tratamento é inibir ou desacelerar a progressão de morte de células ganglionares. O tratamento do glaucoma é, na maioria dos casos, clínico, com o uso de colírios que diminuem a pressão intra-ocular. A cirurgia é reservada para alguns casos onde não há resposta satisfatória com o tratamento clínico.

A comerciante Vânia Cardoso, 57 anos, descobriu que tem glaucoma após realizar um exame para troca de óculos há dois anos. "Eu não sentia nada de diferente. Percebi que o glaucoma é uma doença silenciosa. O preço dos colírios indicados para o tratamento não é barato. Uso diariamente dois colírios e uma pomada. Um dos colírios, por exemplo, custa R$ 100 reais, um frasco de 2,5 ml", conta.

Vânia diz que o glaucoma não mudou a rotina diária. Apenas o calor que sente nas vistas, após utilizar o colírio, é o que a incomoda. Ela temia que o problema se repetisse com os filhos. "Incentivo meus filhos a realizarem os exames regularmente. Foi um grande susto quando o oftalmologista me informou. Confesso que fiquei preocupada", finaliza.

,Serviços:

,Maria Regina Chalita, MD

,Centro Brasileiro de Visão ? CBV

,Tel.: (61) 3214-5000

Brasília, um museu a céu aberto

Segundo relatório do Ibram encaminhado pela Secretaria de Cultura, o Distrito Federal conta com mais de 60 espaços que preservam a história

Brasília é a segunda cidade no país com grande número de museus, só perde para São Paulo. Segundo o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) são 66 espaços sediados no DF. A reclamação dos diretores se dá pela falta de recursos e apoio do Governo do Distrito Federal (GDF). Com pontos turísticos concentrados na área central da cidade, registra, também, obras expostas em lugares pouco conhecidos na capital, que podem ser aproveitados tanto por turistas, quanto pela população que busca um passeio cultural diferente.

O Catetinho é conhecido como a primeira residência oficial do presidente Juscelino Kubitschek. O nome é uma referência ao antigo palácio presidencial no Rio de Janeiro - Palácio do Catete. O acervo preserva as referências da época como móveis, objetos pessoais e de trabalho usados por JK, um espaço ambiental, que conserva um olho d?água e um bosque, além de uma estátua de Juscelino. O projeto preserva a estrutura da inauguração, propiciando ao público um testemunho vivo da época. Para a estudante Jennifer Araújo, 22 anos, o local é uma viagem ao passado. "É uma forma de conhecer a história da capital do País", comenta.

Previsto por Lúcio Costa para fazer parte do Setor Cultural Sul de Brasília, o Museu da República ficou pronto quase 50 anos após a inauguração da capital. Com localização privilegiada, o prédio ocupa um dos lugares mais nobres da cidade, a Esplanada dos Ministérios. Com estética moderna e inusitada, possui uma área total de 15 mil metros quadrados, com interior dividido em quatro pavimentos. Apesar da bela estrutura, o museu ainda não tem acervo e funciona como uma galeria de arte, com espaço utilizado apenas para exposições.

Segundo a Secretaria de Cultura o espaço insere Brasília no circuito internacional das artes e mostras, apresentando o que há de melhor na arte brasileira. O museu realiza exposições de artistas renomados e temas importantes para a sociedade, além de palestras, mostra de filmes, seminários e eventos importantes. "O museu tem uma vantagem que é a proximidade com a rodoviária do Plano Piloto, o que facilita para quem usa o transporte coletivo", diz o auxiliar administrativo do museu, Hamilton Leão.

Secult discute projetos para o MAB,

O Museu de Arte de Brasília (MAB) está fechado há quatro anos por determinação do Ministério Público. O acervo abrigava obras de arte moderna e contemporânea, que vão da década de 1950 ao ano de 2001. Uma diversificação de técnicas e materiais, com pinturas, gravuras, desenhos, fotografias, esculturas e objetos provenientes de doações e prêmios aquisitivos de salões locais e nacionais.

O Ministério Público entendeu que o local deva ficar fechado por falta de condições de abrigar o acervo e os funcionários, devido à umidade e infiltrações. Segundo a diretora do museu, Ana Taveira, o secretário de Cultura, Hamilton Pereira reuniu-se com Oscar Niemeyer para tratar da reforma.

"A obra não iniciou ainda e todo o acervo está guardado no Museu Nacional". A diretora informa que 18 das cerca de 80 obras da mostra que acontece no Palácio do Planalto, "Mulheres, Artistas e Brasileiras", foram cedidas pelo MAB. Exposição que reúne o trabalho de 49 artistas, com destaque para duas obras de Tarcila do Amaral: Auto-retrato e Abapuru.

Templo da Boa Vontade (TBV)

É conhecido também como o Templo da Paz. Admirado ainda pela arquitetura arrojada, é considerado a maior construção em forma de pirâmide do século 20 pelo tradicional Diário de Notícias, de Lisboa, Portugal. O monumento possui 21 metros de altura e em seu topo encontra-se aquela que é considerada a maior pedra de cristal puro do mundo, cujo peso é de aproximadamente 21 quilos. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Distrito Federal (SDET), o Templo já recebeu mais de 20 milhões de peregrinos, mais de um milhão de visitantes por ano e foi eleito uma das Sete Maravilhas de Brasília.

Apesar de alguns problemas apresentados, a maioria dos museus estão abertos de segunda a domingo com entrada gratuita ou com valores que vão de R$ 2 à R$ 6 reais para a manutenção do local.

Moradores de Águas Claras sofrem com a falta de infraestrutura

Moradores reclamam do desrespeito das construtoras que sujam as ruas e interditam as poucas calçadas que existem no local

A vigésima região administrativa do Distrito Federal, Águas Claras, começou a ser construída na década de 1990. Antes a região era considerada um bairro de Taguatinga. É considerada a cidade que mais cresce e com o maior empreendimento imobiliário do DF. O local que compreende o Setor Habitacional Arniqueiras, Areal, Área de Desenvolvimento Econômico (ADE) e uma área central, sofre de vários problemas, dentre eles a falta de calçadas.

Com uma área de 808 hectares, a cidade é considerado o maior canteiro de obras da America Latina. Segundo pesquisa realizada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), Águas Claras abriga cerca de 136 mil moradores, sendo, aproximadamente, 60 mil na região central.

Além da Administração Regional a cidade conta com a Associação de Moradores de Águas Claras (Asmac), mesmo assim a população reclama. O militar, Jones Madruga de Souza é um exemplo. Morador da cidade há 10 anos, diz a administração local deixa a desejar. "Como morador, não percebo a existência desse órgão, que deveria trabalhar para tornar digna a nossa condição de cidadãos. Pagamos impostos, mas não temos retorno desse dinheiro", opina.

Segundo Jones, a cidade é um exemplo perfeito da má administração no DF. Além da especulação imobiliária desenfreada, os moradores sofrem com as construtoras que avançam cercados, impedem as passagens, interditam as ruas em horário de pico, além das betoneiras que derramam concreto nas pistas.

Para ele as construtoras são as proprietárias do espaço público e não dão a mínima para questões como limpeza e segurança. "Em breve faltarão vagas para os carros pararem e também andarem. E as calçadas vão ficando por último obrigando os moradores a caminharem pela rua. Um verdadeiro desrespeito" finaliza.

Para a universitária Alessandra Fonseca andar a pé em Águas Claras é um problema. "Devido à expansão das obras, só encontramos calçadas próximo aos prédios. Isso porque as construtoras colocam para facilitar o acesso dos funcionários", diz a estudante que ressalva temer andar próximo as construções, pois a grande maioria deixam áreas de escavações abertas e sem proteção de cercas.

Procurado pela equipe do Na Prática o administrador de Águas Claras respondeu, por meio da assessoria, que a cidade cresceu desordenadamente e a administração não tem autonomia para resolver a questão. Existem projetos que não são executados, pois conta com a parceria da Secretaria de Obras e da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). O Secretario de Obras, também por meio da assessoria, informou que o assunto deve ser tratado com a Secretaria de Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente. Até o fechamento dessa edição, não atendeu as solicitações da equipe.

Estudante de psicologia ensina fotografia para deficientes visuais

O curso estimula o aluno, por meio da máquina fotográfica, passar para o papel a forma como ele enxerga o mundo

Por Márcia Casali

O projeto “olhar interior: fotografando com a alma” oferece curso de fotografia para deficientes visuais, há oito meses. O trabalho é feito de forma voluntária pelo empresário e estudante de psicologia Sidraque Ribeiro Rocha e pelo fotógrafo e amigo Edmar Gonçalves, da escola de fotografia 4ª Eclipse, que também desenvolve projetos sociais com crianças da Estrutural. Uma maneira de aliar capacitação técnica e inclusão social para pessoas com limitações físicas.

A ideia do projeto surgiu durante uma aula de psicologia para pessoas com deficiência física. Sidraque, que já tinha em mente um trabalho solidário se mobilizou ao assistir Janelas da Alma, um documentário onde artistas, intelectuais e pessoas comuns discutem questões do ver e da visão. Chamou a atenção a forma como o filme recorre à música, literatura e filosofia para explicar a subjetividade do sentido elementar para a fotografia.

Todo material utilizado é pago pelos professores. Dos equipamentos ao transporte que leva os alunos a campo, além do material para impressão das fotos. Para Sidraque todo esforço vale a pena. “É uma forma de mostrar que é possível fazer alguma coisa e não apenas cruzar os braços diante das dificuldades”, diz. Por isso, ele busca patrocínio para melhorar o equipamento e profissionalizar o curso.

O curso - As reuniões acontecem na Biblioteca Braille Dorina Nowill, em Taguatinga. São 24 encontros e três etapas. A primeira turma encerrou com cerca de 500 fotografias em arquivo. Na primeira etapa os alunos aprendem fundamentos básicos de como utilizar uma máquina, mexer com foco, ISO – que na fotografia digital mede a sensibilidade do sensor de imagem - diafragma e obturador.

Na segunda etapa os alunos fazem exercícios para aperfeiçoar a noção de enquadramento. Para treinar o nivelamento do equipamento o exercício utilizado é equilibrar uma bolinha na bandeja. Há um debate onde os alunos discutem mitos como o da caverna, de Platão, conceitos de percepção e outros sentidos. Por fim, saem a campo para testar vários ambientes. Eles visitam lanchonetes, pizzarias, área rural e o Teatro Nacional. “O objetivo é praticar o que aprenderam em sala”, diz Edmar.

Com as aulas práticas os alunos usam os sentidos para se guiarem. Os professores buscam trabalhar a percepção do mundo a partir do tato, audição, olfato e paladar. “É uma troca de experiência onde procuro identificar quais as particularidades de cada aluno e como ele consegue perceber e reconhecer o ambiente ao redor”, explica Sidraque. Para ele cada pessoa tem limitações, mas consegue superá-las, basta acreditar.

Para a funcionária da Biblioteca Braille e ex-aluna do olhar interior, Neuma Pereira, 58 anos, o curso foi uma experiência gratificante. Ela explica que aprendeu as técnicas de como fotografar um objeto ou uma pessoa utilizando o toque. Além do manuseio da câmera, como encontrar o ângulo, abertura de diafragma e foco de luz. Outra técnica utilizada é encostar a máquina na pessoa a ser fotografada e dar alguns passos para trás. “Para quem tem deficiência visual não é algo tão fácil, mas é possível. Estou muito feliz, não só eu, mas todo o grupo aprendeu a fotografar, diz Neuma.