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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Estudante de psicologia ensina fotografia para deficientes visuais

O curso estimula o aluno, por meio da máquina fotográfica, passar para o papel a forma como ele enxerga o mundo

Por Márcia Casali

O projeto “olhar interior: fotografando com a alma” oferece curso de fotografia para deficientes visuais, há oito meses. O trabalho é feito de forma voluntária pelo empresário e estudante de psicologia Sidraque Ribeiro Rocha e pelo fotógrafo e amigo Edmar Gonçalves, da escola de fotografia 4ª Eclipse, que também desenvolve projetos sociais com crianças da Estrutural. Uma maneira de aliar capacitação técnica e inclusão social para pessoas com limitações físicas.

A ideia do projeto surgiu durante uma aula de psicologia para pessoas com deficiência física. Sidraque, que já tinha em mente um trabalho solidário se mobilizou ao assistir Janelas da Alma, um documentário onde artistas, intelectuais e pessoas comuns discutem questões do ver e da visão. Chamou a atenção a forma como o filme recorre à música, literatura e filosofia para explicar a subjetividade do sentido elementar para a fotografia.

Todo material utilizado é pago pelos professores. Dos equipamentos ao transporte que leva os alunos a campo, além do material para impressão das fotos. Para Sidraque todo esforço vale a pena. “É uma forma de mostrar que é possível fazer alguma coisa e não apenas cruzar os braços diante das dificuldades”, diz. Por isso, ele busca patrocínio para melhorar o equipamento e profissionalizar o curso.

O curso - As reuniões acontecem na Biblioteca Braille Dorina Nowill, em Taguatinga. São 24 encontros e três etapas. A primeira turma encerrou com cerca de 500 fotografias em arquivo. Na primeira etapa os alunos aprendem fundamentos básicos de como utilizar uma máquina, mexer com foco, ISO – que na fotografia digital mede a sensibilidade do sensor de imagem - diafragma e obturador.

Na segunda etapa os alunos fazem exercícios para aperfeiçoar a noção de enquadramento. Para treinar o nivelamento do equipamento o exercício utilizado é equilibrar uma bolinha na bandeja. Há um debate onde os alunos discutem mitos como o da caverna, de Platão, conceitos de percepção e outros sentidos. Por fim, saem a campo para testar vários ambientes. Eles visitam lanchonetes, pizzarias, área rural e o Teatro Nacional. “O objetivo é praticar o que aprenderam em sala”, diz Edmar.

Com as aulas práticas os alunos usam os sentidos para se guiarem. Os professores buscam trabalhar a percepção do mundo a partir do tato, audição, olfato e paladar. “É uma troca de experiência onde procuro identificar quais as particularidades de cada aluno e como ele consegue perceber e reconhecer o ambiente ao redor”, explica Sidraque. Para ele cada pessoa tem limitações, mas consegue superá-las, basta acreditar.

Para a funcionária da Biblioteca Braille e ex-aluna do olhar interior, Neuma Pereira, 58 anos, o curso foi uma experiência gratificante. Ela explica que aprendeu as técnicas de como fotografar um objeto ou uma pessoa utilizando o toque. Além do manuseio da câmera, como encontrar o ângulo, abertura de diafragma e foco de luz. Outra técnica utilizada é encostar a máquina na pessoa a ser fotografada e dar alguns passos para trás. “Para quem tem deficiência visual não é algo tão fácil, mas é possível. Estou muito feliz, não só eu, mas todo o grupo aprendeu a fotografar, diz Neuma.

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