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terça-feira, 3 de abril de 2012

Energia que vem do frango

Pesquisadores da UnB desenvolveram sistema que utiliza dejetos de frango como fonte de energia

Por Márcia Casali

O Brasil é o segundo maior produtor de carne de frango do mundo e chega a gerar dez milhões de toneladas de dejetos por ano. Todo esse material pode ser usado não só na agricultura. Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) revelou que eles também são fonte de energia.

A cama de frango é uma espécie de forro utilizada nas granjas para proteger os pés dos frangos. Composta por uma mistura de casca de arroz e gravetos que serve para absorver a urina, fezes e penas das aves. De acordo com o granjeiro Damião Francisco Coutinho, a cada três dias é necessário revolver o material até completar 32 dias no máximo. “É necessário virar porque fica úmida e aquela umidade gera frio para os pintinhos”.

De acordo com o veterinário da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) Mário Paschoal, o material era utilizado como ração animal. A prática passou a ser proibida desde 2004. “Fechou-se um ciclo dos ruminantes ingerindo a proteína animal, pois existe a possibilidade de acontecer um surto de vaca louca no país, que é isento dessa doença”, explica o veterinário. Ele reforça que a cama de frango é um material muito rico em nitrogênio e também matéria orgânica.

Durante o mestrado do pesquisador Guilherme Neitzke, com a orientação do professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UnB Carlos Gurgel, foi testado o uso do gás gerado pela queima da cama de frango como uma fonte alternativa de energia. Depois de triturada e prensada a cama de frango toma a forma de pequenos cilindros chamados de pellets. O gás combustível produzido é resfriado e filtrado.

“Nosso aluno de mestrado nosso, com formação na área agrícola, demonstrou a preocupação sobre a destinação da cama de frango. Então ele propôs usar cama de frango em sistemas de gaseificação. A partir daí nós iniciamos os estudos e comprovamos que é absolutamente possível e os resultados foram sensacionais”, explica o orientador do estudo, Carlos Gurgel que conta com a estrutura do laboratório da UnB e recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

De acordo com a pesquisa, se as dez milhões de toneladas da cama de frango produzidas no país por ano fossem gaseificadas, seria possível geral 700 megawatts de energia por hora. O equivalente a uma turbina da usina hidrelétrica de Itaipu. Ou 140 mil chuveiros elétricos ligados dia e noite, durante 365 dias.

Além dos benefícios da gaseificação, os resíduos desse processo podem ser reaproveitados. O alcatrão, líquido de cheiro forte, é um inseticida natural. As cinzas, ricas em fósforo e potássio, podem ser usadas como adubo orgânico. Segundo o engenheiro mecânico Diego Raphael Alencar, a pesquisa representa uma nova ferramenta por um modelo de desenvolvimento sustentável.

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