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terça-feira, 3 de abril de 2012

Maestro ensina música para crianças carentes

O projeto prevê a criação de uma orquestra sinfônica no Recanto das Emas e Itapoã. Mas a iniciativa precisa de ajuda para dar continuidade

Por Márcia Casali

O Centro de Integração Social da Família e da Criança (Cisfac) é uma organização não governamental (ONG), mantida por voluntários e que atua na comunidade do Itapoã, junto a crianças em situação de vulnerabilidade social. Atualmente atende 80 crianças em caráter social e educacional. O projeto visa promover o desenvolvimento humano, sócio-cultural e econômico. A sede abriga uma biblioteca comunitária que atende dezenas de estudantes por dia. Oferece reforço escolar, de segunda a sexta-feira, nos dois turnos, aula de informática, teatro, dança, além de assistência a saúde por meio de parceiros.

A região do Itapoã começou como uma invasão irregular. Aproximadamente 100 mil habitantes, convivem diariamente com os altos índices de violência, pobreza, desnutrição e analfabetismo. Uma região a menos de 30 km de Brasília a Capital Federal. Tão perto do poder e tão longe da dignidade. Foi nesta realidade que o Cisfac decidiu trabalhar. O projeto existe desde 2006 e visa contribuir para o desenvolvimento social das crianças e famílias. “Já estamos atuando na área de assistência social, educação e saúde”, comenta Ana Maria Costa, voluntária no projeto, que em parceria com o maestro Emílio De Cesar, trabalha na estruturação de uma orquestra sinfônica no Itapoã.

Com apenas 16 anos, Emílio já era regente de coral da Igreja Presbiteriana Independente Central de Brasília. Formado pela Universidade de Brasília (UnB) em regência, composição e canto e pós-graduado em Düsseldorf, na Alemanha informa que a música estimula a criatividade e sensibilização das crianças. Além de auxiliar no aprendizado escolar, estimula a coordenação motora e a ampliação da percepção. “Sabemos que por meio deste trabalho, cada vez mais a criança se engaja na sociedade de uma forma positiva”, afirma De Cesar, que acredita no crescimento e inclusão das crianças na sociedade, sem a necessidade de tirá-las dos locais que vivem.

OS INSTRUMENTOS

O projeto que utiliza a arte como forma de recuperação da cidadania, é um exemplo bem-sucedido de trabalho social com foco na educação. Mas para realizá-lo é preciso ter os instrumentos musicais, o que segundo Emílio é muito caro. Violoncelo e contrabaixo, por exemplo, custa em torno de 600 a 2000 mil reais. O maestro conta com a ajuda da comunidade e busca parceiros para que o trabalho ganhe força e mais crianças sejam alcançadas. “Ao saber do projeto, muitos amigos abraçaram a ideia e doaram instrumentos pessoais”, diz Emílio.

Para ele o desejo é resgatar as crianças das ruas, dos maus caminhos e da péssima influência que infelizmente campeiam certos locais como o Itapoã. “Queremos que eles tenham oportunidades de descobrir, que são capazes de fazer outras atividades”, comenta o maestro e frisa que trabalho semelhante acontece na Venezuela com o “El Sistema”, da Orquestra Simon Bolivar. Segundo ele a sociedade se modifica, sempre que um trabalho social é desenvolvido. “No futuro, muitos alunos poderão trabalhar em locais como Igrejas, teatros, ou mesmo em casa tocando os instrumentos”, afirma.

NOVO PROJETO

No mês de maio, maestro Emílio foi convidado a fazer parte do “Batucadeiros, Crescendo com Música”. O responsável pelo projeto, Ricardo Amorim, explica que a ideia da parceria foi um encontro de anseios que se harmonizaram, entre o grupo e o maestro. Segundo ele, o objetivo era oferecer cursos de instrumentos variados, mas faltavam recursos e conhecimento. Por outro lado, maestro Emílio buscava iniciar um trabalho de música orquestral, em um contexto de projeto que já tivesse uma inserção e identidade cultural, dentro de uma região com populações em vulnerabilidade. “Então juntamos nossas experiências de dez anos de trabalho, na inclusão sociocultural do grupo Batucadeiros, com a vasta experiência musical do maestro Emílio, no Brasil e no Mundo”. Ricardo reforça que a meta é ampliar as oportunidades de cidadania e cultura de crianças, adolescentes e jovens da periferia. Além de gerar qualidade de vida e combater as desigualdades sociais tão latentes no DF.

Para Rosangela Oliveira Campos, 33 anos, mãe de Pedro Henrique, 10, aprender música com o maestro Emílio é uma oportunidade ímpar. Desempregada, ela conta que o sonho do filho sempre foi tocar violão. Certa vez, por não ter R$ 20 reais, ela não pode matricular Pedro em uma escola de música. Assim que mudou para o Recanto das Emas, Rosangela observou crianças andando na rua carregando instrumentos musicais. Foi quando conheceu o projeto Batucar, que atende moradores da comunidade e alunos da rede pública.

Pedro Henrique foi contemplado e atualmente faz parte do projeto com dedicação, pois deseja tornar-se um grande músico. “Confesso que me sinto mais realizada que meu filho. É uma satisfação que não dá para externar”, comenta a mãe, que comemora, não apenas a vitória do filho, mas de cada criança, de uma comunidade menos favorecida como é o caso do Recanto das Emas, que antes não tinha sonhos, mas hoje pode realizar algo diferente.

Um comentário:

  1. Nosso endereço no Itapoã é: Quadra 1 Conjunto F lote 125 a 127 Fazendinha. Venha nos conhecer de perto.

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